A glosite migratória benigna, também chamada de língua geográfica ou eritema migratório, é caracterizada pela presença de lesões eritematosas erosivas migratórias na língua, geralmente no dorso lingual.
Apesar de ser uma condição benigna e não contagiosa, requer atenção cuidadosa e manejo adequado para garantir o conforto e qualidade de vida aos pacientes.
A compreensão da etiologia, fatores de risco, sinais e sintomas é fundamental para o profissional realizar um diagnóstico preciso e garantir o sucesso do caso clínico.
Neste artigo, vamos abordar o que é a condição, manifestações clínicas da glossite migratória benigna, diagnóstico, diagnóstico diferencial e como realizar o tratamento e prevenção de recidivas.
O que é glossite migratória benigna?
A glossite migratória benigna é uma lesão que apresenta manifestações nas regiões do dorso e margens linguais onde apresenta áreas eritematosas erosivas migratórias, isoladas ou múltiplas e bordas esbranquiçadas ou amareladas. Apesar de incomum, pode ocorrer também no ventre da língua.
As lesões tendem a variar de tamanho, formato e posição, migrando ao longo do tempo, apresensentando um aspecto de “mapa” na língua – por isso é popularmente conhecida como língua geográfica.
Além disso, é caracterizada pela atrofia de papilas filiformes e hipertrofia de papilas fungiformes nas áreas eritematosas, sendo uma condição benigna e não contagiosa.
Apesar de assintomática na maioria dos casos, os pacientes podem apresentar desconforto, sensibilidade ou queimação na língua, principalmente ao ingerir alimentos picantes e ácidos.
A condição pode apresentar períodos de exacerbação e remissão, sendo fundamental o acompanhamento clínico do paciente.
Qual é a etiologia da glossite migratória benigna?
A etiologia ainda não é completamente conhecida, mas acredita-se que uma combinação de fatores genéticos e sistêmicos, como por exemplo:
- Diabetes;
- Asma;
- Psoríase;
- Stress;
- Desequilíbrio hormonal;
- Desordens gastrointestinais;
- Deficiência de vitaminas;
- Alergias.
Além desses fatores, conforme citado, a literatura sugere que provavelmente há uma predisposição genética para o desenvolvimento da condição, uma vez que a glosite migratória benigna tende a ser mais comum em indivíduos com histórico familiar.
Pacientes com baixo teor de ferro, zinco, ácido fólico ou vitamina B apresentam maior risco de desenvolver as lesões..
É importante lembrar, que algumas condições sistêmicas, apesar das evidências, ainda estão em estudo para concluir sua relação com a manifestação da língua geográfica, como por exemplo a psoríase e a asma.
Diagnóstico da glossite migratória benigna
As manifestações clínicas podem variar entre os pacientes, mas geralmente incluem lesões vermelhas, bem delimitadas e de forma irregular na superfície dorsal e lateral da língua, apresentando margens esbranquiçadas ou amareladas devido à presença de células epiteliais descamadas.
As principais características clínicas são:
- Áreas avermelhadas, irregulares, bem delimitadas, geralmente sem papilas filiformes;
- Bordas levemente elevadas, esbranquiçadas ou amareladas;
- Distribuição migratória: com as lesões mudança de forma, tamanho e localização ao longo de dias ou semanas.
Geralmente é assintomática, mas alguns pacientes apresentam sensação de dor, queimação, ardência e/ou sensibilidade, principalmente ao ingerir alimentos ácidos e picantes.
Em alguns casos, é caracterizada períodos assintomáticos, intercalados com exacerbações agudas.
O diagnóstico é primariamente clínico, baseado na aparência característica das lesões e na história do paciente.
Para identificar o quadro clínico, é fundamental o dentista realizar uma anamnese detalhada e avaliar o histórico do paciente, saúde oral e saúde sistêmica, além de realizar os exames clínico e físico.
Se necessário, o dentista pode solicitar biópsia e exames complementares, como por exemplo exames de sangue.
É raro a biópsia da lesão ser necessária, mas pode ser realizada se houver dúvida sobre o diagnóstico ou se as lesões não responderem ao tratamento convencional e eliminação dos fatores de risco.
Geralmente, quando ocorre o exame histopatológico, o tecido é caracterizado pela perda de papilas filiformes, mucosa fina e irregular, com cristas epiteliais aumentadas e inflamação crônica e aguda infiltrada na submucosa.
A porção eritematosa pode apresentar infiltrado subepitelial mononuclear, hipertrofia suprapapilar e ectasia vascular.
Já a porção esbranquiçada pode apresentar hiperqueratose e acantose periféricas, além de infiltrado de neutrófilos e micro abcessos.
Para um diagnóstico preciso, é necessário realizar o diagnóstico diferencial, pois a língua geográfica pode ser confundida com outras lesões bucais, mas existem características distintas que ajudam a diferenciá-la de outras patologias.
Saiba mais sobre o diagnóstico diferencial da glossite migratória benigna:
- Candidíase pseudomembranosa: associadas à ardência, apresenta placas esbranquiçadas ou amareladas removíveis;
- Líquen plano erosivo: lesões reticuladas ou erosivas, com sintomatologia dolosa intensa;
- Eritema migratório (associado à glossite areata mediana): além da língua, ocorre em mucosa;
- Reações medicamentosas: ocorre devido ao uso deu fármacos específicos e as lesões não apresentam um padrão;
- Outras glossites: lesões difusas ou ulceradas ou associadas à outras manifestações bucais e/ou doenças sistêmicas.
Após o diagnóstico, o dentista irá avaliar os fatores de risco e avaliar a necessidade de tratamento das lesões.
Tratamento para glossite migratória benigna
Conforme apresentado, a condição é benigna e autolimitada, para a qual não existe tratamento específico, sendo a opção um manejo conservador e focado no alívio dos sintomas e no conforto do paciente.
O tratamento primário inclui evitar de fatores desencadeantes, como alimentos picantes e ácidos, que podem exacerbar os sintomas, além de avaliar a saúde sistêmica e ter cuidados adequados de higiene bucal.
Manejo clínico da glossite migratória benigna
O objetivo do tratamento é realizar o manejo dos sintomas, quando presentes, e realizar a orientação do paciente, conforme veremos a seguir:
Manejo clínico
- Evitar alimentos e substâncias irritantes (ácidos, picantes, álcool);
- Não fumar;
- Utilização de enxaguatórios bucais suaves (sem álcool);
- Uso de corticosteroides tópicos em baixa potência em casos com sintomatologia dolorosa;
- Analgésicos para alívio da dor, se necessário;
- Suplementação nutricional, em caso de deficiência de vitaminas.
Identificar e gerenciar os fatores de risco é crucial para minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A orientação do paciente é fundamental para o sucesso do caso clínico. Algumas recomendações importantes incluem:
- Explicar a natureza benigna da condição e que não é contagiosa;
- Informar sobre a possibilidade de flutuações nos sintomas e na aparência da língua;
- Aconselhar sobre a identificação e evitação de possíveis fatores desencadeantes de sintomas;
- Instruir sobre a importância da higiene bucal adequada;
- Orientar sobre quando procurar atendimento odontológico (aumento da frequência ou intensidade dos sintomas e/ou lesões com aspecto atípico).
O quadro clínico apresenta excelente prognóstico, sendo fundamental a prevenção de recidivas por meio do controle dos fatores de risco e de higiene bucal adequada.
Conclusão
A glossite migratória benigna, é uma condição benigna, não contagiosa e geralmente assintomática.
O conhecimento sobre suas manifestações clínicas, diagnóstico, diagnóstico diferencial, tratamento, manejo e fatores de risco é fundamental para aliviar os sinais e sintomas, oferecendo conforto ao paciente.