A cirurgia ortognática é o procedimento indicado para pacientes em que apenas o tratamento ortodôntico não é suficiente para corrigir problemas de oclusão, função e/ou estética dental e facial.
A cirurgia corrige discrepâncias esqueléticas, sendo um instrumento para estabelecer função, saúde bucal, saúde sistêmica e estética, impactando na qualidade de vida dos pacientes.
Neste artigo, vamos abordar a importância do diagnóstico, os benefícios para a saúde oral e sistêmica dos pacientes, as indicações clínicas e as etapas do procedimento cirúrgico.
O que é cirurgia ortognática?
A cirurgia ortognática é o procedimento cirúrgico, realizado na Odontologia por um cirurgião bucomaxilofacial, indicado para corrigir discrepâncias da maxila, mandíbula e dentofaciais em pacientes que já terminaram a fase de crescimento facial.
Essa correção impacta diretamente em funções como fonação, mastigação, respiração e oclusão, além de resultar em um resultado estético que também influencia positivamente na autoestima e no aspecto emocional/psicológico do paciente.
É importante lembrar que é um procedimento multidisciplinar, que além do tratamento ortodôntico pré e pós operatório, envolve outros profissionais (além do cirurgião bucomaxilo), como por exemplo psicólogo, fonoaudiólogo, fisioteraupeta e nutricionista, entre outros profissionais.
A cirurgia tem como objetivo as seguintes correções funcionais
- Aparelho estomatognático;
- Respiração;
- Mastigação;
- Oclusão;
- Qualidade do sono;
- Estabilização da ATM;
- Saúde periodontal.
Pacientes que possuem indicação cirúrgica, geralmente apresentam problema oclusal, doença periodontal, disfunção de ATM, problemas respiratórios, como por exemplo respiração bucal e apneia do sono, cefaleia e alterações no aparelho estomatognático.
Por isso, a cirurgia oferece ao paciente benefícios funcionais e estéticos que impactam diretamente na saúde bucal e sistêmica.
Além dos benefícios físicos, os pacientes apresentam uma melhora significativa qualidade de vida e na autoestima após a cirurgia.
Indicações clínicas da cirurgia ortognática
O procedimento é indicado para pacientes com alterações de crescimento ósseo que causam discrepâncias, resultando em alterações faciais e maloclusão dentária, comprometendo estética e função, como por exemplo em casos de maloclusão classe II e maloclusão classe III com indicação cirúrgica.
Essas alterações podem ser congênitas ou adquiridas. A indicação cirúrgica exige uma avaliação criteriosa dos aspectos funcionais e estéticos do paciente. Entre as principais condições que podem justificar o procedimento estão:
- Maloclusão, como por exemplo mordida aberta, mordida profunda e mordida cruzada;
- Assimetria facial;
- Prognatismo;
- Retrognatismo;
- Atresia;
- Disfunção de ATM.
Essas condições podem causar os seguintes aspectos clínicos:
- Ronco;
- Apneia obstrutiva do sono;
- Problemas respiratórios;
- Respiração bucal;
- Xerostomia;
- Dificuldade de fala e mastigação;
- Limitação da abertura bucal;
- Problemas articulares na ATM;
- Dor crônica;
- Problemas emocionais.
A decisão de realizar o procedimento deve considerar também a saúde sistêmica do paciente.
As principais contraindicações da cirurgia ortognática são para pacientes oncológicos, quadros de doenças sistêmicas graves, discrasias sanguíneas, diabetes não controlada, doença cardiovascular severa/não controlada e pacientes que apresentam dificuldade de regeneração óssea.
Como planejar a cirurgia ortognática
O planejamento detalhado é fundamental para o sucesso cirúrgico, envolvendo uma equipe multidisciplinar, exames pré-operatórios e um diálogo aberto com o paciente sobre expectativas, riscos e cuidados pós-operatórios.
A cirurgia não se resume apenas ao ato cirúrgico e sim a um trabalho prévio de preparação do paciente.
Após o procedimento, é necessário prosseguir o tratamento ortodôntico para o refinamento do caso e o acompanhamento clínico dos outros profissionais pelo tempo determinado pela equipe, de acordo com as características do caso clínico.
O planejamento da cirurgia ortognática é realizado em 3 etapas:
1) Preparo Cirúrgico
- Anamnese detalhada;
- Exame clínico e físico;
- Documentação ortodôntica e cefalometria;
- Fotografia facial;
- Diagnóstico e avaliação oclusal;
- Tratamento ortodôntico prévio;
- Tratamento odontológico com outras especialidades, se necessário;
- Avaliação da equipe multidisciplinar;
- Exames de imagem, como por exemplo radiografias e tomografia computadorizada;
- Radiografias específicas para avaliação de ATM, como por exemplo a radiografia transcraniana;
- Em casos de assimetria facial, realizar estudos transversais em telerradiografia;
- Avaliação médica, incluindo anestesista.
Além disso, o profissional pode utilizar os recursos da Odontologia Digital e tecnologia CAD CAM na Odontologia para realizar o planejamento cirúrgico.
O escaneamento intraoral e o uso de software odontológico 3D permite simular o resultado final da cirurgia, auxiliando o profissional escolha da técnica cirúrgica. Além disso, modelos digitais e impressos auxiliam na visualização tridimensional do caso clínico.
2) Cirurgia
É o procedimento cirúrgico, realizado conforme o planejamento, baseado nas informações obtidas na fase pré-operatória.
3) Pós-operatório e finalização ortodôntica
Compreende os cuidados pós-operatórios e a continuidade dos tratamentos com a equipe multidisciplinar, incluindo o ortodontista.
É importante o profissional orientar o paciente sobre a restrição alimentar (dieta líquida e pastosa) para planejamento da dieta com acompanhamento de nutricionista.
Além do edema, equimose, hematomas e dor, o paciente deve ser alertado das seguintes características do pós-operatório e riscos da cirurgia ortognática:
- Complicações incomuns da anestesia, como por exemplo náusea, vômito e depressão pós-operatória;
- Risco de infecção (fundamental a prescrição de antibióticos);
- Pequeno sangramento nasal;
- Agitação psicomotora;
- Dificuldade de alimentação:
- Perda de peso;
- Insônia:
- Fadiga;
- Parestesia e/ou alteração de sensibilidade na língua, dentes e face (temporária ou permanente);
- Comprometimento da vitalidade pulpar.
Para o sucesso do procedimento, o paciente deve realizar os seguintes cuidados pós-operatórios:
- Usar corretamente a medicação prescrita;
- Seguir a dieta;
- Evitar esforço físico;
- Repouso;
- Evitar exposição ao calor e luz solar excessiva;
- Higiene bucal adequada e específica para o pós-operatório;
- Não faltar em consultas de retorno e acompanhamento;
- Seguir com o tratamento multidisciplinar após o procedimento cirúrgico.
Para o sucesso do caso clínico, é essencial o dentista compreender todas as etapas que envolvem o procedimento, desde a avaliação pré-operatória até os cuidados pós-operatórios e a continuidade do tratamento com os demais profissionais de saúde.
Conclusão
A cirurgia ortognática é uma intervenção necessária quando o tratamento ortodôntico não é o suficiente para devolver ao paciente função e estética.
Os benefícios da cirurgia são significativos, abrangendo a saúde bucal, saúde sistêmica e saúde emocional do paciente.
Com um acompanhamento clínico adequada e uma comunicação clara entre paciente e profissional, é possível minimizar riscos e complicações.
Adotar uma abordagem multidisciplinar, estar atento às inovações tecnológicas, realizar um planejamento adequado, monitorar o paciente no pós-operatório e dar continuidade aos tratamentos após o procedimento são medidas fundamentais para obter sucesso no caso clínico.